Por Ti Rei (Reinaldo Pessoa) ||||
Cavalgante de feições bonita, partiu montado em égua de pelagem tordilha. Se fosse uma mula seria de pelagem Cardã. Égua de andamento marchado, carregando seu dono, peso amigo e conhecido a indicar a direção desejada. À égua cabia escolher o lugar onde pisar, trilha segura para suas patas firmes. Sela e traias bem cuidada, na garupa gorda protegida pela manta ia o Alforje, aquele um, e o porta capa.
A tropa percebendo que retornava pra casa, muita vontade de caminhar. Não pode aumentar a toada, cavalgar sem apertar o passo. Já tinham cavalgado tanto e ainda tinha muitas léguas pela frente. O burro baio, de nome Geraldino, tomou o passo atrás do cavalo pampa, com o cincerro pendurado no peitoral da cangalha ajeitada alguns dias antes desta cavalgada, na Selaria Sete, batendo ding-dong, ding-dong.
Animais tomando o passo uns atrás dos outros numa procissão com cargueiros e animais de reserva seguindo obediente a égua madrinha. Tudo é obra de Deus, ele me fez merecedor de ver tudo isso. O Córrego do Caldeirão não é o mesmo, a água diminuiu. Logo a frente, onde teve um rancho, o barro preto, a roçar os machinhos, melando as canelas, respingando barro, breando as perneiras, escondendo o brilho das esporas. Não tem mais não.
Certa ocasião encontramos a cruz dos dois irmão caiada, amarramos ela no pé de candeia logo acima, continua no mesmo lugar… Dizem que certa ocasião dois irmãos morreram abraçados numa noite gelada ali na Serra.
Ali no alto da Serra a sensação de liberdade é sentida. Assim que a neblina passou, deu pra ver ao longe, bem longe, o azul do céu sendo confundido com o azul da Serra, não permitindo mais separar o que é céu e o que é Serra.
Acho que a vida não deve ser medida pelos obstáculos que encontramos, mas sim pela coragem com que os enfrentamos. Acordar é um milagre, cavalgar é prazeroso, mas poucos agradecem a Deus. Ele está sempre olhando por nós a cada instante da cavalgada.
O jovem cavalgante comentou, tem que verificar com calma, se pretendo ser um cavalgante competente nesta Serra, que prega, ensina, mas sempre cobra, Humildade. A escola estava ali, e ele seria bom aluno, sem desmerecer os ensinamentos dos veteranos.
Mundão sem fronteira. Olhando ao longe, ali um planalto, as veredas da Serra, tudo igual, o jovem de cenho cerrado entrante nos 25 anos. É uai, faria em breve 25 anos. Fechando os olhos para enxergar através das pestanas, boa proteção além da aba do chapéu com uma pena da pomba fogo pagou.
Quando iniciamos esta tradicional cavalgada, colocamos nossa vida e nossos projetos nas mãos do Senhor Bom Jesus. Confio Nele. Ele nos conduz, mostrando o melhor caminho. Sempre. Às vezes, Ele nos leva pela trilha mais longa, não pra nos punir, mas para nos preparar. Ali, saudoso de casa, da esposa amada e dos lindos filhos, retornando.
Oh! Aquele cheiro conhecido e asseado. Àquela hora da tarde andavam a apurar o jantar com gordura de porco. Ali o nosso pouso e fartas pastagens para a tropa. 17h13 passava um pouquinho. Com capricho, fazendo o melhor, com as condições que temos.
Vou cavalgando, pedaços de mim vou deixando…
Conto publicado na Revista COOPERANDO de agosto de 2024
Uma resposta
Parabéns Reinaldo, (tio Rei,,,)! Está cavalgada é de muitos tempos ,anos! E você com sua fé em Bom Jesus, é muito grande ,Deus te abençoe hoje e sempre, com sua fé e este lindo cavalgar com amigos! Lindo também sua narrativa! Lindo! 👏👏🙏