Por Rebeca Batista Saturnino e Cláudio Manoel Teixeira Vitor* |||||
Em um sistema de produção animal em pastejo, as pastagens são, historicamente, o item que é mais deixado em segundo plano pelos produtores. Quando os preços da arroba ou do litro de leite caem, os produtores geralmente precisam ajustar seus custos para manter a viabilidade econômica da propriedade rural. Uma das primeiras áreas onde ocorre o corte de despesas é na reposição de nutrientes nas áreas de pastagens. Isso pode resultar em pastagens menos produtivas no longo prazo, impactando a qualidade e quantidade de forragem disponível para o gado, que, de certa forma, reflete na quantidade de áreas em degradação no país.
As áreas degradadas surgem a partir de diversos erros que são frequentemente cometidos pelos produtores, como a escolha da espécie forrageira inadequada, a ineficiência na correção da fertilidade do solo e principalmente no ajuste da oferta e demanda de alimento para os animais. A sazonalidade da produção de forragem gera períodos de excesso e de escassez, o que agrava esses problemas.
Em resposta à essas dificuldades, muitos pecuaristas adotam sistemas extensivos de baixa lotação para amenizar as variações de produtividade, mas isso resulta em baixa eficiência e rentabilidade. Com as restrições à expansão agrícola, a pecuária tem se intensificado, exigindo taxas de lotação mais altas, que necessita de um planejamento forrageiro adequado para equilibrar a produção de forragem com a demanda alimentar do rebanho.
O planejamento forrageiro tem como objetivo garantir um suprimento constante de forragem para os animais ao longo de todo ano, considerando as demandas nutricionais dos animais, as condições climáticas, a capacidade de produção das pastagens e as práticas de manejo, afim de evitar a escassez e a degradação das áreas. Esse planejamento se destaca pela capacidade de antecipar cenários adversos e elaborar estratégias para superá-los. Nele são definidas as espécies forrageiras mais adequadas a serem utilizadas em um sistema de produção animal, em qual período do ano e com qual grau de intensificação. Ele pode ser dividido em três níveis: planejamento estratégico, planejamento tático e planejamento operacional.
O planejamento estratégico é aquele que envolve metas para 3 a 5 anos, ou seja, a longo prazo. Nele se define metas para a produtividade, estabelecendo a quantidade de forragem a ser produzida em cada área, a taxa de lotação, a produtividade animal e a quantidade de forragem que esses animais necessitam. No planejamento estratégico é definido o método de pastejo, o local, o ano e a forrageira a ser implantada, além de ser definido a melhor época para a compra e venda de animais, por exemplo. Para realizar esse planejamento, deve-se levar em consideração o tamanho da área, a topografia, o solo, as forrageiras a serem implantadas, a adubação e as condições climáticas da região.
O planejamento tático envolve metas de médio prazo e é objetivado em ajustar as metas realizadas no planejamento estratégico e executar o que foi planejado anteriormente. Nesse momento, as sementes, insumos e materiais necessários para execução do planejamento estratégico devem ser adquiridos. Além disso, nele é realizado as alterações necessárias de acordo com a realidade do momento, como alterar a data de compra e venda de animais devido a entraves que possam surgir, alterar a área ou o método de pastejo.
O planejamento operacional é o realizado a curto prazo. São as decisões tomadas no dia-a-dia da fazenda, como o tempo em que os animais ocuparão a área e o tempo em que a área descansará, a intensidade em que o pastejo é realizado e as mudanças dos animais entre lotes. Um erro comum cometido por muitos produtores é utilizar apenas este nível de planejamento, sem realizar as etapas de planejamento anteriores, o que faz com que ele passe por situações inesperadas.
O planejamento forrageiro deve ser o ponto de partida na preparação de um sistema de produção e pode se adaptar às condições variáveis que não podem ser controladas, como o clima, por exemplo. Embora o planejamento forrageiro não possa prever exatamente o futuro, ele permite a comparação de alternativas, estabelecimento de metas e identificação de limitações, o que é essencial para a sustentabilidade e para o sucesso da atividade pecuária. A implementação desse planejamento contribui para suprir as dificuldades dos produtores e identificar maneiras de oferecer alimento de qualidade e em quantidade ideal durante todo o ano para os animais.
*UFSJ – GEPEC – Grupo de pesquisa em Pecuária – instagram: @gepecufsj