Cavalgada das Perobas à Conceição: Os preparativos e início da jornada

Por Guilherme Guimarães ||||

O mês de junho trouxe mais uma vez o aroma da tradição para a Família Perobeira. No dia 9, domingo ensolarado, teve início a preparação para a tão aguardada cavalgada de 2024: Fazenda das Perobas até Conceição do Mato Dentro. A tropa, de pelos brilhando após um bom banho, aguardava o caminhão que a levaria até a Fazenda das Perobas, em Jequitibá, Minas Gerais. Era o prelúdio de uma jornada de uma semana, onde as rédeas do tempo se afrouxariam para uma travessia de 200 km, recheada de aventuras.

Juliano Pereira, com o sorriso sereno de quem conhece os segredos do campo, recebeu o caminhão com os animais por volta das 14 horas. Ao seu lado, os filhos Julianinho e Tiago, prontos para encarar mais uma edição dessa tradição familiar.

A tarde avançava. Por volta das 17 horas os demais cavaleiros começaram a chegar. Como manda o figurino da boa resenha, a cerveja gelada foi servida, o churrasco assou no ponto, e os “causos” do ano anterior começaram a ecoar, entre lembranças e risadas. à medida que a noite caía, a ansiedade pela nova cavalgada de aventuras, que se iniciaria no dia seguinte, começou a bater forte no peito de todos.

A fazenda das Perobas, como de costume, acolheu todos com o calor típico da hospitalidade mineira. A cavalgada deste ano contou com um grupo de 13 cavaleiros: Juliano Pereira, Tiago Pereira, Marcinho, Marco Paulo, Rômulo Nogueira, Rodrigo Leão (mais conhecido como Turiba), Renato Avelar, Filipe Raposo, Vitório, Guilherme Guimarães, Márcio Gomes, Lucas, Pedro Goulart e Higor Caldas. Formaram o time que carregaria consigo a responsabilidade de manter viva a tradição.

Não tivemos a alegria de desfrutar da companhia agradável dos amigos: Zezé Tanure, João Vitor, Maurício Brion, e Guilherme Paiva (ou “Pivas”, como alguns o chamam, ou simplesmente “Ju” para outros). Não puderam participar. A saudade ficou, mas a todo momento lembrávamos deles no alto da serra.

Depois de muitas risadas, conversas e churrasco, o silêncio da noite tomou conta. Era hora de descansar. Afinal, no dia seguinte, os cavaleiros teriam pela frente o primeiro desafio: percorrer os 40 km até Lapinha. O sol ainda nem havia despontado. A expectativa já brilhava nos olhos de todos.

A cavalgada da família Perobeira continua a ser mais do que uma simples travessia. É um resgate das raízes, uma conexão com a terra, com os animais e, principalmente, com a amizade.

A madrugada do dia 10 de junho trouxe uma surpresa inusitada. Por volta das 2 horas, nosso amigo Rômulo Nogueira, ainda preso ao mundo dos sonhos, começou a gritar em seu quarto: “Vamos pegar o cavalo, gente! Vamos pegar o cavalo!”. No primeiro instante, imaginei que tínhamos perdido a hora. Ao olhar o relógio no celular, percebi que o dia ainda nem começara. Ri sozinho e entendi o quanto essa cavalgada mexe com todos nós, até nos sonhos.

Às 5 horas, o dia finalmente começou para valer. O café já estava pronto, cortesia de Julianinho, e os cavalos aguardavam no curral. Renato e Filipe Raposo, o “Bode”, já haviam preparado a cangalha, organizando os mantimentos para a jornada. Rômulo e Vitório estavam ocupados escovando o verdadeiro herói da viagem: o burro Saveirinho, que carregaria a preciosa carga durante a cavalgada. Com a sabedoria de sempre, Renato e Tiago arriaram a cangalha no fiel Saveirinho, preparando tudo para a grande aventura. Por volta das 8 horas, todos os cavaleiros estavam prontos. Fizemos nossa tradicional oração, pedindo a Deus e à Nossa Senhora Aparecida que nos guiassem com segurança e paz. Com fé no coração, partimos rumo a Lapinha.

A jornada é longa, e por isso levamos dois animais para fazer o revezamento. Enquanto um cavalo carregava o cavaleiro, o outro nos seguia, solto, acompanhando o ritmo do grupo.

Às 11 horas, fizemos nossa primeira parada. No alto de um morro em Jequitibá, próximo a um lago de água azul cristalina. Foi o momento de dar um fôlego à tropa, enquanto saboreávamos uma deliciosa farofa preparada por Dona Verinha, mãe de Marcinho e Marco Paulo. Suco, água e um “tiro de whisky” completaram o cenário, mantendo a animação em alta. Ao meio-dia, já estávamos na estrada de Baldim.

O dia estava muito bonito, mas o sol quente exigia que buscássemos sombra sempre que possível. Nossa segunda pausa foi na casa do saudoso Raimundo Gato. Lá, por volta das 13h30, desmontamos a cangalha e preparamos uma fritada espetacular de carne de sol, usando o fogãozinho a gás portátil. O suco em pó misturado com água matou nossa sede, e ainda havia pão, salaminho e doce para completar a refeição. Aproveitamos a pausa para refrescar os cavalos com um bom banho, enquanto descansávamos.

Após uma hora, retomamos o caminho. Um dos trechos mais bonitos da cavalgada é a travessia do rio que marca a divisa entre Baldim e Santana do Riacho. A sensação de liberdade ao cruzar as águas, montado em seu cavalo, é algo indescritível. A água fria subindo até o peito do animal, o som da correnteza, o vento no rosto… Era pura adrenalina, como se nada mais importasse além daquele momento de aventura e conexão com a natureza.

Durante a descida para o rio, Rodrigo Leão, o Turiba, passou por um susto. Ao tentar resgatar um cavalo que se afastou do grupo, seu próprio cavalo pisou em um buraco e os dois acabaram caindo. Felizmente, ninguém se machucou, e Turiba, experiente como é, tirou o incidente de letra.

Por volta das 16h30, já estávamos na estrada de Santana do Riacho. O frio do entardecer começou a tocar nossos rostos, enquanto a neblina descia lentamente, criando um cenário espetacular ao redor do paredão da serra. Após oito horas de cavalgada e 41 km vencidos, chegamos ao nosso primeiro pouso.

No curral, tiramos as selas, demos um banho caprichado nos cavalos e os soltamos em um piquete, com feno e água à vontade para que pudessem descansar. Depois, seguimos para a casa onde passaríamos a noite, de frente para o majestoso paredão da Lapinha. Fomos recebidos por uma feijoada quentinha, que desceu como uma luva para repor as energias.

Exaustos, mas com o espírito cheio de satisfação, os cavaleiros se reuniram para uma última cerveja antes recolherem. O segundo dia de cavalgada prometia ainda mais aventuras, e estávamos prontos para o que viesse, mesmo que nem imaginássemos o que o destino reservava.

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