Por: Ítalo Melquíades Capanema Oliveira e Cláudio Manoel Teixeira Vitor *
Com a chegada das primeiras chuvas, iniciam-se também os preparativos para a nova safra, uma etapa decisiva para o bom desempenho das lavouras e para a formação de pastagens mais vigorosas após a colheita. As decisões tomadas nesse momento influenciam diretamente a produtividade e, sobretudo, a conservação do solo a longo prazo.
O solo vai muito além de ser apenas “terra”. Ele é um sistema que reúne componentes físicos, químicos e biológicos, sendo essa última parte, a viva, uma das mais importantes. Com o passar do tempo, os micro-organismos do solo contribuem para a formação de agregados estáveis e canais que permitem a infiltração e o movimento da água, além de favorecer o crescimento saudável das plantas. Diferentemente dos adubos ou da irrigação, essa estrutura biológica não pode ser comprada, pois resulta de um manejo contínuo, equilibrado e bem conduzido.

Esses organismos atuam constantemente, mesmo quando a lavoura está em repouso. Eles criam caminhos que aumentam a capacidade de infiltração e armazenamento de água, melhoram a drenagem e reduzem o risco de compactação. Além disso, essa rede de poros funciona como um reservatório de nutrientes, evitando perdas por lixiviação durante as chuvas. Quanto mais tempo o solo é manejado de forma conservacionista, mais eficiente e resiliente ele se torna.
Por outro lado, práticas convencionais como o uso frequente de grade de discos e arado, embora comuns, comprometem essa estrutura natural. O revolvimento excessivo destrói os agregados biológicos e deixa o solo mais exposto. Em períodos de chuva intensa, é comum observar a terra sendo carregada pelas enxurradas, o que favorece a erosão e assoreamento de cursos d’água, problemas recorrentes em áreas de relevo mais acidentado.

Como alternativa, o plantio direto tem se mostrado uma prática eficiente e relativamente simples de adotar. Seus três princípios básicos são: não revolver o solo, manter cobertura permanente com palhada e diversificar as culturas ao longo do tempo. Na integração lavoura-pecuária, a própria pastagem cumpre o papel de cobertura. Com as primeiras chuvas, o capim rebrota e, antes do plantio, realiza-se a dessecação, deixando uma camada de palhada sobre o solo. Essa cobertura reduzir a velocidade da água, evita o escoamento superficial, melhora a infiltração, recarrega os lençóis freáticos e conserva a umidade por mais tempo.
Outra prática importante no controle da erosão é o uso de curvas de nível, que orientam o preparo e o plantio conforme o relevo natural, formando linhas que diminuem a velocidade da água da chuva. Quando associadas ao plantio direto, essas curvas de nível aumentam significativamente a eficiência das ações de conservação do solo.
A integração lavoura-pecuária permite combinar essas práticas de maneira estratégica, otimizando o uso dos recursos disponíveis. O solo permanece protegido, o revolvimento é reduzido e a água é aproveitada de forma mais eficiente. Essa abordagem contribui para manter a fertilidade, aumentar a produtividade e tornar a propriedade mais resistente às variações climáticas.
Embora o planejamento e a adoção dessas técnicas exijam tempo, os resultados compensam. Solos bem estruturados suportam melhor o tráfego de máquinas, aproveitam mais eficientemente a água da chuva e reduzem a necessidade de correções futuras. Assim, investir em manejo adequado é garantir sustentabilidade, produtividade e rentabilidade no longo prazo.
* (UFSJ – GEPEC – Grupo de pesquisa em Pecuária – instagram: @gepecufsj)



