Importância da recuperação de pastagens

Por Sidnei Antônio Lopes e Ítalo Câmara de Almeida* |||||

A bovinocultura brasileira tem passado por grandes transformações, em consequências de questões relacionadas à segurança alimentar, bem estar animal, aumento das exigências dos consumidores, competição com outras fontes de proteína animal, além da competição por terras destinadas a culturas agrícolas. Neste sentido, o desenvolvimento e adoção de tecnologias que permitam a ampliação da capacidade de produção nas áreas atualmente utilizadas, tornaram-se fundamentais. Nesse cenário, as fazendas de bovinos devem ser vistas como empresas, que devem ser rigorosamente administradas no intuito de apresentarem resultados eficientes do ponto de vista zootécnico e, principalmente, econômico.

Por estar localizado na região tropical, o Brasil apresenta elevado potencial para produção de biomassa vegetal favorecendo a exploração de bovinos em pastejo. Assim, o sistema de produção predominante é o extensivo. No estado de Minas Gerais são mais de 25 milhões de hectares de pastagens, representando cerca de 30% do território (IBGE, 2019).

As pastagens se destacam dos demais meios de alimentação para bovinos por:

  • Não competir com outras formas de utilização;
  • Por ser a fonte mais barata de energia e nutrientes;
  • Pelo baixo custo de produção, quando comparado a outras fontes de alimentos e;
  • Alta praticidade, devido ao fato, de poder ser colhida pelo próprio animal.

Tal fato nos possibilita um menor custo de produção quando comparado a sistemas intensivos. Desta forma, devemos lançar mão de estratégias para aumentar a proporção de energia e nutrientes da pastagem que pode ser convertida em produto animal, principalmente, em tempos de alta nos preços dos alimentos concentrados como milho e soja.

No entanto, as variações sazonais característica dos trópicos e aspectos ligados as plantas forrageiras, caracterizam o sistema de produção por períodos de maior disponibilidade e qualidade da forragem e por períodos de escassez. Associado ao fator clima, tem-se os processos de degradação das pastagens, originados na acidez e baixa fertilidade do solo, a falta de adubação corretiva e de manutenção, práticas inadequadas de formação e manejo deficiente.

A degradação de pastagens é um processo evolutivo de perda de vigor e produtividade da forrageira, sem possibilidade de recuperação natural, que afeta a produção forrageira e o desempenho animal e culmina com a degradação do solo e dos recursos naturais em função de manejos inadequados. São sinais de degradação de pastagens:

  • Perda de produtividade e vigor;
  • Redução na capacidade suporte;
  • Aparecimento de plantas não desejáveis ex: Rabo de burro;
  • Surgimento de pragas e doenças ex: cupins
  • Surgimento de áreas com solo sem vegetação; e, em casos extremos
  • Erosão

Nos sistemas de produção de bovinos no Brasil, as pastagens geralmente são relegadas as piores condições de solo e topografia, sendo dadas a essas uma condição secundária em relação às lavouras. Além disso, estes solos muitas vezes encontram-se exauridos após anos seguidos de exploração irracional. De maneira equivocada, busca-se a “forrageira milagrosa”. Porém, na maioria das situações a escolha inadequada, somado ao manejo incorreto e aos fatores supracitados resultam em baixa produtividade e, consequente, degradação da pastagem.

As forrageiras estão constantemente sendo submetidas a estresse pelo pisoteio, pastejo e/ou corte, necessitando de condições físicas, químicas e biológicas de solo, no mínimo igual a outras culturas economicamente exploradas. Este é o ponto de particular importância, pois ainda há uma crença no Brasil de que o uso de corretivos e a adubação de pastagens é cara e muitas vezes inviável, porém, ressalta-se que a obtenção de elevada produção a pasto, só é possível com forrageiras de alta produção de matéria seca e bom valor nutritivo, sendo que estas são as mais exigentes em relação a fertilidade do solo.  As pastagens precisam ser tratadas como culturas!

O conhecimento da forrageira e o seu correto manejo são importantes para garantir a sustentabilidade do sistema. Adicionalmente, destaca-se que a fertilidade do solo exerce influência na produção e valor nutritivo das forragens. Assim, a correção do pH do solo e a reposição adequada de macro e micronutrientes são necessários para garantir altas produções de forragem e manter sua persistência por longos períodos, principalmente, em regiões de terras valorizadas favorecendo a pecuária competitiva e sustentável.

Vantagens da recuperação de pastagens

  • Maior cobertura do solo;
  • Redução de processos erosivos;
  • Maior infiltração de água no solo;
  • Maior conservação de umidade no solo;
  • Sequestro do carbono atmosférico, atuando para mitigação dos gases do efeito estufa e suas consequências ao meio ambiente;
  • Maior produção de forragem de melhor qualidade;
  • Menor necessidade de uso de alimentos concentrados, resultando em menor custo de produção;
  • Maior taxa de lotação;
  • Menor gasto com controle de plantas invasoras;
  • Valorização da propriedade.

Um dos maiores entraves na recuperação de pastagens é a disponibilização de recurso imediato para este fim. Que possui retorno demorado e muitas vezes não visto pelo produtor. Para amenizar os custos com a recuperação de pastagens existem algumas alternativas que devem ser escolhidas de acordo com o perfil de cada propriedade, dentre elas podemos citar:

  • Recorrer a linhas de crédito específicas para esta finalidade;
  • Reformar pequenas áreas por ano com recurso oriundo da própria propriedade;
  • Integração com outras culturas em sistemas integrados como por exemplo: o Sistema Integração Lavoura e Pecuária (ILP) em que se tem a implantação de uma cultura agrícola e da pastagem e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), em que se tem a implantação do componente arbóreo, de uma cultura agrícola e da pastagem, podendo ser inserido no primeiro ou segundo ano, animais para pastejo. Nestes sistemas, os custos com a reforma da pastagem são amenizados a curto/médio prazo com venda de grãos e a longo prazo com a venda de madeira.

De maneira geral, não há uma receita que valha para todas as situações. Peculiaridades devem ser compreendidas e referenciadas nas condições regionais.

Portanto, produtor invista em suas pastagens!

Mais informações entrar em contato por e-mail: sidnei.lopes@epamig.br, ítalo.almeida@epamig.br

*Sidnei Antônio Lopes é Pesquisador Nutrição de Ruminantes /Epamig Centro-Oeste e Ítalo Câmara de Almeida é Pesquisador Reprodução de Bovinos/ Epamig Centro-Oeste

Matéria publicada originalmente na edição 613 da Revista COOPERANDO de janeiro de 2021.

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