“As Seis lições” e o preço do leite

Por Marcelo Guimarães, editor da Revista Tempo Verde ||||

(Em 30 | janeiro | 2019)

Circula nas redes sociais uma foto do atual presidente do Brasil, empossado em 1º de janeiro, Jair Messias Bolsonaro, segurando dois livros: “A Lei”, do francês Frédéric Bastiat (1801 – 1850), e “As Seis Lições”, do austríaco Ludwig von Mises (1883 – 1973). A imagem sinaliza que a economia do Brasil, capitaneada pelo ministro Paulo Guedes, terá forte tendência liberal, que é a linha de pensamento dos dois autores. Ou seja, não teremos praticamente nenhuma intervenção coercitiva do estado no controle dos preços. O mercado se regulará sozinho, seguindo as regras da lei divina e irrevogável da oferta e da procura. E onde entra o preço do leite na história? É o que vou contar.

Para a economia voltar a crescer, os políticos e o estado brasileiro vão encolher. Assim pensam e agem os liberais. Eleito em 28 de outubro de 2018, Jair Bolsonaro herdou em 1º de janeiro uma economia que, longe de estar plenamente operante e com alguns problemas estruturais, está razoavelmente estabilizada.  Paulo Guedes vai buscar o controle das contas, implantando o teto de gastos, desburocratizar, desregulamentar e fazer a desestatização de empresas públicas. Isso implica também em necessária reforma da previdência e ajuste fiscal. Paralelamente, será feita redução de impostos – altos, não estimulam o investimento produtivo -, inclusive das tarifas de importações… de leite.

AS SEIS LIÇÕES – Em 1958, Mises fez uma semana de conferências na Argentina, falando sobre socialismo, capitalismo, intervencionismo, inflação etc. Após sua morte, sua esposa, Margit, transcreveu as gravações das palestras e editou o livro “As seis lições”. Mises fez relatos de intervenções econômicas históricas. Um deles, o que aconteceu em todos os países onde o governo buscou controlar o preço do leite: Ao estabelecer o preço máximo, inferior ao praticado pelo mercado, o governo acha que está fazendo o que é preciso para permitir aos pobres comprar leite. O que acontece? O menor preço provoca o aumento da demanda. Por outro lado, parte dos produtores, aqueles que produzem a um custo mais elevado, sofrem prejuízos.

“Este é o ponto crucial da economia de mercado. O empresário privado, o produtor privado, não pode ter prejuízos… e passa a vender suas vacas para o matadouro… A interferência redunda em menor quantidade do produto, concomitante a uma maior demanda… Antes de sua interferência, o leite era caro, mas era possível comprá-lo”, explica Mises. “Então o governo pergunta aos produtores por que não produzem mais a mesma quantidade de leite. A resposta é: ‘Impossível, em decorrência dos custos de produção.’ E o governo então passa a interferir nos controle de preços da ração, determinando um preço máximo. O que acontece? Repete-se a mesma história do leite, pelas mesmas razões. E como o governo não quer abrir mão do controle, determina preços máximos para os bens de produção da ração… e isso é socialismo.”

Seguindo os ensinamentos liberais, propostos por Mises, Bastiat e outros, a equipe econômica de Bolsonaro deve pouco ou nada interferir no preço do leite e de todas as outras mercadorias, como o combustível, por exemplo. Vai deixar o mercado se ajustar naturalmente. E, se por um lado, os baixos impostos para importações de leite em pó podem prejudicam o produtor nacional, por outra via, eles serão beneficiados por poder adquirir, com maior facilidade, em outros países, equipamentos e máquinas, e insumos capazes de torná-los mais eficientes e produtivos. E o consumidor brasileiro vai encontrar leite mais barato nas gôndolas dos supermercados.

“O caminho liberal não encerra a vida numa coletânea de receitas econômicas. Ele é possível porque está baseado na observação das leis naturais que regulam os processos da vida e, consequentemente, os encadeamentos econômicos e sociais. Tais leis são, evidentemente, as mesmas que regem, em outra escala, o Cosmos”, acredita Gilbert Fournier, Fundador do Cercle Bastiat – Echirolles, França.

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