Por Benjamin Salles Duarte, Engenheiro agrônomo |||||
O domínio das práticas agrícolas ao longo de milênios consolidou as relações da humanidade com os recursos naturais na sinergia clima, solo, fauna e flora nos continentes da Terra e deve perdurar ainda por muitos séculos nessa longa caminhada rumo ao futuro presumível, entretanto, os humanos revelam uma extraordinária capacidade de aprender, inovar, renovar, viver, sobreviver, projetar, dilapidar, reconstruir, produzir, comercializar e registrar eventos seculares, que são as memórias do tempo!
No viger do século XXI a oferta de alimentos, energias, e o acesso aos recursos hídricos para múltiplos usos, campo e cidades, serão três entre outros desafios consideráveis num cenário agravado pelas mudanças climáticas e seus efeitos colaterais poderosos anunciados pelos pesquisadores e cientistas de todo o mundo e já detectados nos continentes, mares, oceanos, geleiras, extinção de espécies animais e vegetais, e no comportamento pendular do “Ciclo hidrológico.”
Entretanto, deve-se registrar que plantas e animais se adaptam aos ambientes hostis e adversos à vida ao longo séculos e séculos de mudanças genéticas e adaptação, conforme pesquisas e provas científicas! O deserto de Atacama (Chile) é 50 vezes mais seco que o Vale da Morte, na Califórnia (EUA); tem vida adaptada, reduzida precipitação de chuvas e três milhões de anos (Google).
Contudo, o primeiro projeto de irrigação foi desenvolvido pelo Faraó Menes (3100 a.C), com canais e represas, para utilizar as águas do rio Nilo na produção de trigo. Os Incas, Astecas e Maias dominavam processos de irrigação há mais de 1500 anos; a prática da inundação na cultura do arroz chegou no Rio Grande do Sul na 1ª década de 1900. Os sistemas de irrigação agrícolas são por inundação controlada, aspersão, gotejamento, pivô-central, tubos enterrados, gravidade em sulcos, o que implica também em eficiente gestão dos recursos hídricos disponíveis; a agricultura irrigada no Brasil ocupa uma área de 8,2 milhões de hectares e poderá crescer 40% até 2040. Projeções de longo prazo podem ser revistas!
Pode-se presumir que as chuvas definem, num conjunto de outras exigências tecnológicas, os ganhos e perdas nas safras de grãos, a depender das regiões produtoras afetadas nos respectivos ciclos produtivos das culturas; nem chuvas demais e nem de menos, o suficiente na hora certa!
Ao longo de séculos as máquinas e equipamentos agrícolas fazem parte dos programas de conservação do solo e da água, bem como plantios diretos, entre boas práticas, na busca da eficiência no uso dos recursos hídricos e sejam sustentáveis na agropecuária e dessedentação dos rebanhos de pequenos e grandes animais.
O Brasil reúne 12 grandes bacias hidrográficas, entre as quais do rio São Francisco, que nasce na Serra da Canastra (MG), e sua capacidade de drenagem das chuvas (639,2 mil km2) abrange Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas
Por outro ângulo, Minas Gerais desempenha também papel indispensável na irrigação em nível nacional por seus recursos hídricos e através de suas bacias hidrográficas compartilhadas com outros estados brasileiros, o que recomendam também as boas práticas de conservação do solo e da água!
Aliás, a pesquisa desenvolvida por Daniel Guimarães e Elena Landau, ambos da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG), sobre a “Agricultura Irrigada por Pivôs Centrais no Brasil em 2024” revela 33.846 pivôs num total de 2,20 milhões de hectares irrigados; 70% desses equipamentos de irrigação se localizam na região dos Cerrados (BR).
E mais, destacam-se as regiões Sudeste, com (897,4 mil hectares); Centro-Oeste (608,8 mil); e Nordeste (439,7 mil), e os três 1ºs estados são MG, com (636,9 mil hectares); BA (404,4 mil); e Goiás (345,5 mil). Além disso, os três 1ºs municípios irrigantes (pivôs); São Desidério (BA) (91,6 mil hectares); Paracatu (MG)(88,8 mil); e Unaí (MG)(81,2 mil).
Essa pesquisa é substantiva em análises, dados e informações hídricas! Entre 1985 e 2024, a área irrigada por pivôs central passou de 30,8 mil hectares para 2,20 milhões (+1300%)(ANA). A água é vital à vida humana, animal, vegetal e insubstituível; a tese da abundância dos recursos naturais não presume nenhum fundamento científico no viger dos séculos!
O artigo 9º da Declaração Mundial dos Direitos da Água (ONU) diz; “A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social.” Numa escassez hídrica considerada grave, a lei determina prioridade para o abastecimento humano e dessedentação dos rebanhos de pequenos e grandes animais. Nota; o rio Amazonas verte para o Oceano Atlântico 18,75 trilhões de litros de água doce à cada 24 horas.