Por Derick Leandro da Silva Caetano e Cláudio Manoel Teixeira Vitor* |||||
Estamos saindo de um período seco e esperamos muito em breve o início das chuvas. Dentre os muitos benefícios do início desse período, espera-se o enchimento dos reservatórios, melhoria da qualidade do ar e também uma melhoria na agricultura e na pecuária.
Esse período, no qual ocorre a transição seca-águas, geralmente acontece entre meados de outubro e novembro na região Sudeste do Brasil. Em se tratando da produção animal em pastagens, durante a seca, a disponibilidade de matéria verde é reduzida, necessitando na maioria das vezes a adoção da suplementação para repor as necessidade nutricionais do rebanho. Já no período de chuvas há a transição de uma forragem de baixa qualidade para uma de alta qualidade. Nessa fase há a ocorrência de brotações com boa qualidade nutricional, porém ao se alimentarem delas, os animais podem apresentar diarreia, a chamada “diarreia do broto” e o seu consumo pode esgotar as reservas nutricionais da planta.
Acontece que, durante o período da seca, os animais têm à sua disposição nas pastagens um capim maduro com alto teor de matéria seca. Quando caem as primeiras chuvas, os brotos logo saem nas pastagens e os animais começam a se alimentar desses brotos, bastante tenros e suculentos. Entretanto, esses primeiros brotos possuem uma grande quantidade de água e nutrientes, mas ao mesmo tempo, são baixos em fibras, o que pode desregular o sistema digestivo dos bovinos, resultando em fezes mais líquidas.
Para contornar esses problemas, entre o final do período seco e início do período chuvoso é necessário um manejo diferenciado e estratégico, que aqui definiremos em quatro pilares básicos: roçadas estratégicas, adubação, controle da taxa de lotação e suplementação.
Durante a seca, a forrageira passada e seca pode ser uma opção para a alimentação do gado desde que aliado à suplementação nutricional. No entanto, durante a época de transição, caso a quantidade de material morto esteja em excesso na pastagem, é recomendada uma roçada mecânica para a diminuição desse excedente, permitindo assim uma maior entrada de luz na base das touceiras e por consequência um aumento do perfilhamento. A altura ideal para a roçagem deve ser 30% menor que a altura recomendada de saída da forrageira em uso na pastagem, para que haja o crescimento de novos perfilhos.
A adubação nitrogenada é recomendada para o aumento das brotações, no entanto poderá ser feita somente após a certeza de que o período de chuvas se iniciou de forma efetiva, evitando assim maiores perdas por volatilização. Essa adubação poderá ser feita em área total em sistemas contínuos ou dosada entre os piquetes para sistemas rotacionados cerca de 10 dias antes da entrada dos animais. É válido citar que antes de proceder qualquer correção do solo ou adubação, é necessário que seja feita a análise de solo, pois nutrientes em equilíbrio maximizam o efeito benéfico entre eles. Com a adubação nitrogenada, é esperado que se aumente a produção de biomassa da forrageira, e consequentemente da capacidade de suporte da pastagem.
A capacidade de suporte é a quantidade máxima de animais que uma área de pastagem pode sustentar ao longo de um determinado período, sem que ocorra degradação da vegetação ou do solo. Assim, de posse desse índice, pode-se avaliar se a forrageira está produzindo o suficiente para aquele número de animais. A capacidade de suporte ideal de uma pastagem deve permitir a alimentação do gado durante um período sem que o pasto fique “rapado” ao final, ou seja, respeitando a altura de saída daquela cultivar. Nesse período de transição é recomendado diminuir um pouco a taxa de lotação, abaixo da capacidade de suporte da pastagem, até que haja o reestabelecimento completo dessa pastagem.
Por fim, a suplementação será uma grande aliada nesse período de transição por fornecer os nutrientes necessários ao metabolismo do animal. A suplementação poderá ser apenas proteica ou proteica-energética, e, para escolher uma ou outra, deve-se estabelecer as metas de ganho durante o período chuvoso, lembrando que animais e pastos diferentes requerem formulações específicas.
Portanto, para o sucesso no manejo de pastagens na transição seca-águas é de extrema importância que sejam respeitadas as características das forrageiras e realizada as adubações sempre que houver necessidade. Além disso, garantindo a suplementação e um manejo adequado da altura de entrada e saída, é possível manter a capacidade de rebrota da planta, incrementar o ganho de peso e aumentar a lucratividade na produção rural.
*Derick Leandro da Silva Caetano e Cláudio Manoel Teixeira Vitor, Grupo de pesquisa em Pecuária (Gepec) – UFSJ – instagram: @gepecufsj