Por Ti Rei (Reinaldo Pessoa) ||||
Senhor Bom Jesus nos abençoou com mais uma cavalgada, e termos mais uma chance de sermos felizes na sua graça. Verificar as trilhas, ajeitar os pousos, jantas e fartas pastagens pra fazermos breve a 36ª Cavalgada Riachão a Conceição.
A porteira que esconde a noite e o atoleiro da bota da Xuxa, e a árvore do Zeca, já haviam ficado pra trás. Com o Carlinhos ficou acertado o pasto onde soltar a tropa, a casa, e a varanda que vai receber pela primeira vez a turma da cavalgada.
A trilha bifurcava em “Y”. O Companheiro regalou os olhos vistoriando as beiras da trilha. Do lado esquerdo era mais larga. Ali já passou tratores de pneus tempos atrás. Do lado direito o capim já maduro mostrando que sobrou. Já deu semente, sinal que o gado não atreveu beirar as encostas. Ramo tentando esconder o Ribeirão Extrema que corria sempre em frente, serpenteando, dividindo, marcando onde fica o município de Pirapama e do outro lado o município de Baldim.
Este Ribeirão nasce na serra de Baldim, atrás da casa do Izídio Francisco, o Santo da Caraíba, fazendo a barra do Extrema no Rio Cipó, ali na Serra Bonita atrás da casa do Toninho.
Eu tenho ideia de tudo o que o Senhor Bom Jesus me livrou nessas belas e temidas trilhas. Confio, acredito e agradeço sempre. Animados descemos a trilha do Val Bananal, ali na região da Barra do Extrema.
Casa de Seu João Carrinho, homem paciencioso, sempre esclarecendo as indagações. O capim está alto, o ramo cresceu, a espinheira invadiu as trilhas. Tem que entupir uns buracos, quebrar pedras, roçar e tirar alguns paus que o vento derrubou. As chuvas foram poucas, mas na hora certa. Melhor ajeitar os camaradas para o serviço.
Cuidado nunca é em demasia. Olhar bem olhado, desconfiança nesta trilha da Serra, olho regalado. Sempre como fosse a primeira vez. Esta Serra mostra, ensina, mas cobra Humildade.
O mundo mudou os costumes. Alguns custaram a perceber, mas reconhecem. Com o celular é fácil comunicar, mas eu prefiro fazer o corpo a corpo com quem nos recebe na ocasião da tradicional cavalgada à conceição do Mato Dentro, resgatando e preservando o que fizeram os tropeiros, ajeitando os muares pra levar as cangalha e bruacas recém reformadas na Selaria Sete. Os cargueiros são levados, pois não levamos camionetes no apoio. Entendo que as coisas antigas andam fora de uso.
Eu acho que antigo era no tempo de meu bisavô. Antigo ali na região só mesmo o rio a descer com as águas em eternas andanças, sombreadas pelas frondosas arvores que debruçam em direção ao Rio. Antiga também é esta Serra, de vestimenta nova, sua vegetação sempre mudando.
O tempo pode passar, levar com ele horas, dias meses, mas meus momentos, sentimentos, pessoas que eu gosto, ninguém conseguira levar…
E eu já percebi que ficamos velhos cedo demais. E sábios muito tarde. A felicidade não é quando conseguimos o que queremos, é quando aproveitamos o que temos.
Vou cavalgando, pedaços de min vou deixando…
Publicado na Revista COOPERANDO de 15 de junho 20224