Com a proximidade da primavera, agosto marca o início dos preparativos para a estação de monta, momento fundamental no calendário reprodutivo da equinocultura. Nesta fase, a avaliação ginecológica das éguas se torna uma das ferramentas mais importantes para garantir bons índices de fertilidade e o sucesso reprodutivo da tropa.
Através de exames clínicos, laboratoriais e ultrassonográficos, é possível identificar a aptidão reprodutiva de cada matriz, detectar eventuais patologias uterinas ou ovarianas e definir estratégias individuais para maximizar a taxa de concepção.
Avaliação clínica: o primeiro passo
O exame clínico externo observa conformação da vulva, presença de corrimentos, alterações no períneo e integridade do canal vaginal. Uma má conformação vulvar, por exemplo, pode favorecer a entrada de ar e bactérias, predispondo à endometrite, principal causa de infertilidade nas éguas.
Já no exame interno, avalia-se manualmente o tônus e o tamanho do útero e dos ovários. Essa palpação deve ser feita por um médico-veterinário capacitado, com técnica delicada e assepsia rigorosa.
Ultrassonografia transretal: imagem e precisão
O ultrassom revolucionou o manejo reprodutivo equino. Com ele, é possível monitorar o ciclo estral, observar a dinâmica folicular, detectar cistos ovarianos, diagnosticar prenhez precoce e até mesmo identificar fluidos ou alterações morfológicas no útero, como a presença de endometriose.
O ideal é que a ultrassonografia seja feita a cada 48 horas durante o cio para o correto acompanhamento da ovulação, especialmente em éguas que participarão de inseminações artificiais.
Citologia e cultura uterina
Para éguas que apresentam histórico de reabsorção embrionária, ciclos irregulares ou falhas reprodutivas, é recomendado realizar coletas de material uterino para análise citológica e bacteriológica.
A citologia avalia a presença de células inflamatórias, o que pode indicar infecção ou inflamação endometrial. Já a cultura bacteriana identifica os agentes infecciosos e permite testes de sensibilidade a antibióticos. Éguas com endometrites crônicas frequentemente requerem tratamento específico com lavagens uterinas e medicamentos antimicrobianos.
Avaliação hormonal e controle do ciclo
Nos casos em que a égua apresenta ciclos anovulatórios ou dificuldades em manter prenhez, a dosagem de hormônios (como progesterona e estrogênio) pode fornecer informações valiosas. Além disso, há protocolos hormonais eficazes para induzir ovulação ou sincronizar cios, facilitando o planejamento das coberturas naturais ou inseminações.
O uso de prostaglandinas e gonadotrofinas, sob orientação técnica, ajuda a ajustar o ciclo estral conforme a programação da estação de monta.
Condição corporal: o reflexo da fertilidade
Não se pode esquecer que a nutrição está intimamente ligada à fertilidade. Éguas muito magras ou obesas têm mais dificuldade em ciclar normalmente. O escore de condição corporal (ECC), avaliado em escala de 1 a 9, deve estar entre 5 e 6 para favorecer a ovulação e a concepção.
O fornecimento de minerais como selênio, zinco, cobre e vitaminas do complexo B também favorece a atividade ovariana e melhora a qualidade dos óvulos.
Éguas idosas: cuidados redobrados
As éguas com idade avançada (acima dos 15 anos) podem apresentar menor taxa de concepção e maior risco de complicações gestacionais. Nessas matrizes, o acompanhamento reprodutivo deve ser ainda mais rigoroso, com exames periódicos e estratégias individualizadas para maximizar resultados, como a inseminação com sêmen fresco e acompanhamento ultrassonográfico intensivo.
A eficiência reprodutiva de uma tropa começa muito antes do garanhão ou da inseminação. Avaliar, tratar e preparar as éguas com antecedência é o que garante maior aproveitamento da estação de monta, reduz perdas econômicas e aumenta a taxa de nascimentos no ano seguinte. Investir em exames ginecológicos em agosto é, portanto, uma medida estratégica e econômica, que reforça o compromisso do criador com a saúde, o bem-estar e a produtividade dos seus animais.