Diversidade no cultivo: uma antiga prática, uma solução presente

Por Marinalva Woods Pedrosa e Antonio Henrique de Souza |||||

A busca pela melhor ocupação e uso dos espaços e recursos disponíveis na natureza sempre esteve presente nas práticas agrícolas humanas. Os cultivos surgiram, afinal, como uma maneira de garantir a sobrevivência dos povos e, ao longo da história da domesticação de plantas, a diversificação das culturas tem sido uma característica marcante de várias populações e culturas.

É possível observar, em comunidades distintas, a prática de cultivos consorciados conforme as condições da região. Um desses policultivos é a milpa, praticada há milhares de anos por agricultores da Mesoamérica – região que abrange parte da América Central e foi berço de civilizações como astecas e maias – e de outras regiões das Américas, que se baseia no cultivo consorciado de milho (Zea mays), feijão (Phaseolus spp.) e abóbora (Cucurbita spp.). O termo “milpa” vem do idioma náuatle (“mili”, campo semeado, e “pan”, em cima de) e também é conhecido como “as três irmãs”, referindo-se às três espécies cultivadas. Esse sistema tem importante papel cultural e nutricional, bem como na preservação da biodiversidade dessas espécies.

A associação dessas três espécies é realizada de diversas formas, tendo em vista os diferentes materiais genéticos disponíveis de cada um de seus componentes, em combinação com a diversidade de condições de solo, clima e aspectos culturais. Dessa forma, a milpa é de grande relevância, pois mantém o vínculo com práticas e costumes alimentares ancestrais e representa fonte de nutrientes, além de contribuir como componente estratégico para fortalecer relações socioeconômicas no meio rural.

Do ponto de vista agronômico, essa prática combina plantas com padrões distintos de desenvolvimento que, quando bem manejadas, contribuem de forma positiva para o sistema de cultivo. A diversificação atrai insetos benéficos, reduzindo a necessidade de controles;  a presença do feijão (ou de outra leguminosa) favorece a fixação biológica de nitrogênio no solo e beneficia as demais culturas; protege as espécies mais baixas do estresse térmico, devido às diferentes alturas das plantas, tornando o sistema mais resiliente a variações ambientais e aos desafios impostos pelas mudanças climáticas; melhora a estrutura e reduz a erosão do solo, em função da maior disponibilidade de matéria orgânica. No entanto, na atualidade, há ainda muito o que investigar considerando as diversas combinações e manejos possíveis nesta prática agrícola.

Do ponto de vista nutricional, a milpa pode ser uma excelente fonte de nutrientes essenciais para a alimentação humana, considerando a diversidade ofertada pela combinação das três espécies vegetais. O consumo conjunto do milho, feijão e abóbora fornece carboidratos, proteínas, fibras, vitaminas do complexo B, diversos minerais, ácidos graxos essenciais (como o ômega 3) e biocompostos antioxidantes.

Portanto, a milpa pode ser uma forma de agricultura sustentável e eficiente, permitindo a produção de alimentos em áreas diversas e uma maneira de promover a soberania e a segurança alimentar e nutricional.

Marinalva Woods Pedrosa é Pesquisadora da EPAMIG Centro-Oeste – Prudente de Morais, MG. Antonio Henrique de Souza é Bolsista FAPEMIG.

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