Por André Thomazini, professor da UFSJ |||||
A matéria orgânica do solo pode ser definida como um conjunto de diferentes resíduos orgânicos em diferentes estádios de composição, incluindo os organismos do solo e seus metabólicos. A matéria orgânica, de uma forma geral, traz inúmeros benefícios para os atributos do solo, sendo essencial para melhorar sua fertilidade e contribuir para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas tropicais.
Primeiramente, ela ajuda a aumentar a capacidade de retenção de água do solo. Solos com maior teor de matéria orgânica conseguem reter mais água, o que é crucial para o desenvolvimento das plantas, especialmente em períodos de seca prolongado como estamos enfrentando nos últimos anos no Brasil em virtude das mudanças climática. Isso se torna mais especial onde a água é atualmente um recurso escasso.
A matéria orgânica do solo exerce um papel fundamental na conservação e no manejo da água através da sua capacidade de retenção de água, que é, em parte, promovida pela biomassa presente na superfície do solo. Isso se torna um aspecto crucial, pois sistemas de manejos conservacionista, tais como o plantio direto, atuam diretamente nesse aspecto. A biomassa ou palhada superficial age como uma camada protetora que reduz a evaporação da água, controla a temperatura e promove maiores taxas de infiltração.
Essa cobertura ajuda a minimizar a perda de água no solo, além de proteger contra a erosão e manter a superfície do solo mais equilibrada em termos térmicos. A erosão por sua vez, que é o desgaste, transporte e deposição de partículas do solo, é fortemente reduzida na presença de cobertura vegetal na superfície. Isso é marcante para fins de conservação de solo e água em países que a chuva é um fator decisivo no cotidiano agrícola.
Em termos de interação com as partículas primárias do solo (areia, silte e argila) a matéria orgânica atua como um agente agregante, ligando essas partículas, formando e estabilizando o que conhecemos como estrutura do solo. Isso é um dos aspectos mais importantes no tocante a física do solo, onde a formação de agregados pode reduzir a compactação e melhorar o armazenamento e a infiltração da água pela formação do sistema poroso dos solos. Nos solos arenosos, a matéria orgânica aumenta a retenção de água, compensando a menor capacidade natural desses solos de reter água.
A capacidade da matéria orgânica de reter água é notável: ela pode armazenar até 20 vezes sua própria massa em água, em grande parte devido aos radicais hidrofílicos (com afinidade pela água) presentes em sua estrutura.
A manutenção da matéria orgânica na superfície gera um equilíbrio que facilita a formação de microhabitats para diversos microrganismos. Esses agentes biológicos desempenham um papel fundamental na decomposição de resíduos e na ciclagem de nutrientes, além de participarem ativamente na solubilização e disponibilização de nutrientes as plantas. Esses microrganismos utilizam a matéria orgânica como fonte de energia, mantendo um ecossistema saudável e dinâmico no solo.
Outro ponto positivo é o aumento da capacidade de troca catiônica (CTC), que permite que o solo retenha e forneça nutrientes de forma mais eficiente para as plantas mediante sua demanda. Além disso, a matéria orgânica é uma fonte natural de nutrientes essenciais, como nitrogênio, fósforo e enxofre. À medida que a matéria orgânica se decompõe, por intermédio da atividade microbiana, esses nutrientes são liberados e ficam disponíveis para as plantas, promovendo seu crescimento saudável.
Portanto, a manutenção e incorporação de matéria orgânica no solo é um fator-chave para a saúde e a produtividade dos sistemas agrícolas tropicais. Ela não só melhora as condições físicas e químicas do solo, mas também promove um ambiente mais equilibrado e resiliente, essencial para o desenvolvimento sustentável da agricultura, tornando os sistemas agrícolas mais produtivos e estáveis ao longo das safras.
André Thomazini é professor da UFSJ
Email: andre.thomazini@ufsj.edu.br
