Por Oscar Duarte Ribeiro Silva e Cláudio Manoel Teixeira Vitor * |||||
A produção de carne bovina é uma rede complexa de elementos interligados, que abrange sistemas de produção variados, fornecedores de serviços e insumos, indústrias de processamento e distribuição, e a comercialização de produtos e subprodutos até chegar aos consumidores finais. Essa cadeia tem uma dinâmica própria e enfrenta desafios contínuos relacionados à sustentabilidade do sistema de produção e às flutuações no preço da arroba do boi.
A atividade pecuária lida com a imprevisibilidade dos preços, o que gera riscos e afeta a rentabilidade. Essas flutuações podem impedir que o produtor cumpra suas obrigações e cubra seus custos. Devido aos riscos associados às variações de preços, tornou-se essencial para os produtores se protegerem contra essas mudanças. Nesse contexto, o mercado futuro oferece um mecanismo de proteção contra oscilações indesejadas por meio da compra e venda de contratos futuros de ativos.
O mercado futuro do boi gordo é uma ferramenta estratégica indispensável para o pecuarista, permitindo-lhe planejar e assegurar a rentabilidade da produção. Por meio deste mecanismo, o pecuarista pode fixar antecipadamente os preços de venda do gado, protegendo-se das oscilações do mercado e diminuindo a incerteza financeira. Essa previsibilidade é crucial para o planejamento de longo prazo, possibilitando uma gestão mais eficiente dos custos de produção e a implementação de investimentos em tecnologias e melhorias no manejo dos rebanhos.
Para negociar no mercado futuro, o produtor que planeja vender animais nos próximos meses, durante a fase de engorda, calcula os custos da arroba produzida. Com base em informações de custo e preços futuros, ele pode organizar suas atividades. Se os preços futuros forem superiores aos custos, ele pode vender no mercado futuro, garantindo rentabilidade. Caso contrário, pode optar por reduzir a produção ou repensar seu sistema, já que estaria produzindo com um custo superior ao valor que o mercado está disposto a pagar.
Em relação a negociação, esses contratos futuros são negociados em bolsa, onde diariamente pessoas credenciadas participam de um tipo de leilão de contratos para entrega futura. No Brasil, essa operação ocorre na Bolsa de Mercadorias e Futuros – BM&F/Bovespa, localizada em São Paulo. Trata-se de uma instituição sem fins lucrativos que custodia os títulos negociados e realiza os acertos de ajustes, ou seja, as contas daqueles que têm algo a receber ou pagar.
A estabilidade proveniente dos contratos futuros permite que os pecuaristas invistam em tecnologias e melhorem a infraestrutura da propriedade, aumentando a produtividade e a eficiência. Com uma estratégia diversificada, o produtor pode aproveitar as variações de preço para maximizar seus lucros, comprando e vendendo contratos futuros na bolsa conforme as condições de mercado. Além disso, ao garantir preços futuros, os pecuaristas conseguem obter financiamentos e investimentos com mais facilidade, pois os credores têm maior confiança na capacidade de pagamento, o que contribui para a estabilidade e o crescimento do negócio.
Entretanto, o uso eficaz de contratos futuros requer conhecimento e capacitação, destacando a importância da educação financeira no setor agropecuário. A utilização do mercado futuro como ferramenta pode revolucionar a gestão financeira e operacional das propriedades rurais, trazendo mais estabilidade, previsibilidade e oportunidades de crescimento. Porém, para usufruir de todos esses benefícios, é essencial que os pecuaristas se capacitem e se informem sobre as melhores práticas e estratégias no uso dos contratos futuros em sua propriedade.
* Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ – Campus Sete Lagoas)